top of page

A Jihad do Hamas: Tática, Estratégia e Objetivo

  • 27 de ago. de 2014
  • 4 min de leitura
ree

Ao final de uma guerra, sempre discute-se quem saiu vitorioso. Os governos precisam prestar contas em casa, tentando mostrar para a população que os gastos astronômicos com foram por uma causa justa. Também precisam mostrar competência e capacidade na defesa e proteção de Israel. As vozes são muitas dentro do governo israelense e há opiniões diversas de como a operação “Margem Protetora” deveria ter sido executada.


O argumento inicial quando a operação começou era de que os ataques aéreos seriam feitos até que os mísseis parassem de cair em Israel. Depois da infiltração de terroristas do Hamas por um túnel, a entrada por terra aconteceu e o argumento oficial para a guerra passou a ser a destruição dos túneis do Hamas. Mesmo assim, havia membros do governo que defendiam até a reocupação de Gaza. Já no final da operação, com o início do primeiro cessar-fogo de 72 horas, críticas à condução da operação também apareceram, com setores do governo dizendo que Israel deveria acabar com o Hamas e que não poderia aceitar o cessar-fogo.


Desde o início, a posição oficial do governo deixava claro que não havia a intenção de acabar com o Hamas. A destruição dos túneis daria a legitimidade necessária dentro da sociedade israelese para a operação e, ao destruir todos os túneis conhecidos, o governo decide partir para o cessar-fogo e retira as tropas de Gaza. Muitos cidadãos israelenses que moram na região fronteiriça com Gaza se mostraram insatisfeitos com o cessar-fogo, dizendo que isso não resolveria o problema e que em pouco tempo a guerra seria novamente uma realidade em suas vidas.


Será que o cumprimento da missão, a destruição dos túneis, faz de Israel vitorioso nessa guerra? Houve um real revés na estratégia e na política do movimento fundamentalista palestino? O Hamas não é um movimento de loucos raivosos, ávidos por poder. O Hamas tem tática, estratégia e objetivo. O Hamas joga em diferentes frentes e vem conseguindo um êxito enorme. O objetivo do Hamas é a destruição de Israel e a construção da Palestina em todo o território da chamada “Palestina Histórica”, do Rio Jordão ao Mar Mediterrâneo. Sua Jihad mira a restituição da Shaaria (código de leis morais e religiosas do Islã) nesse novo país e subjugação de todos à sua forma de governo e religião. Já a sua estratégia ficou muito clara nesse último conflito. O Hamas sabe que não vai derrotar Israel militarmente. Utiliza táticas de guerrilha contra um exército extremamente bem equipado. As duas principais frentes do Hamas são: a destruição da democracia israelense e a deslegitimação de Israel.


E a tática? Ora, a tática é o terrorismo, a guerra. Mas antes que eu parta para a análise, só queria ressaltar que para que haja guerra, é preciso que tenha um outro lado disposto a guerrear. Durante a operação militar houve uma efervecência muito grande dentro da sociedade israelense. Na verdade, mesmo antes, a partir do sequestro dos três jovens israelenses, ocorreu um movimento extremamente perigoso levando a pedidos de vingança contra a população árabe (que na minha opinião foi expressa no formato de guerra, como apontei em meu último artigo), perseguição a moradores de Jerusalém Oriental e, principalmente, a uma deslegitimação da própria esquerda israelense.


Ser a favor da paz e do diálogo e contra a guerra passou a ser motivo de agressões físicas (em casos de manifestações do gênero onde militantes tentavam impedir tais protestos na base da violência) e agressões verbais (quando discute-se política em diversos ambientes). Houve uma radicalização à direita,a  perpetuação do ódio. O medo de um possível extermínio e um suposto mega ataque terrorista que seria praticado na noite de Rosh HaShana, o ano novo judaico, conforme anunciado pela mídia israelense. A democracia israelense começa ser colocada contra a parede e as consequências da guerra e do longo conflito começam a aparecer de forma mais reacionária e autoritária.


A “crucificação” de movimentos de esquerda que gritam pela paz e a fortificação de quem defende a guerra. Uma vitória para o Hamas. A deslegitimação de Israel é a segunda estratégia do grupo terrorista para se construir o Estado palestino. Não é nem preciso avaliar as consequências da missão “Margem Protetora” pelo mundo. Do antisionismo ao antissemitismo, manifestações tomaram as ruas de diversas cidades. Protestos em frente a embaixadas e sinagogas, judeus sendo atacados como se fossem responsáveis pela guerra em Gaza.


No campo diplomático, países chamam seus embaixadores em Israel para esclarecimentos e outros ameaçam com um embargo militar, ou seja, não forneceriam mais armamentos ao exército israelense. A estratégia do grupo terrorista para deslegitimar Israel passa pela morte da sua própria população. Mortes e destruição são o que o Hamas quer, pois isso fortalece a sua Jihad midiática. Os mortos são mártires que serviram à luta contra a legitimidade de Israel. O objetivo maior é o que importa. Os fins justificam os meios. Outra vitória do Hamas.


As manifestações e o isolamento político de Israel são as maiores provas de que eles estão no caminho certo. Agora, a maior vitória do movimento terrorista está prestes a acontecer. O cessar-fogo indeterminado, pelo fim da guerra, mediado pelo Egito, deverão manter o Hamas como a principal força política em Gaza. O quem vinha sendo discutido e reivindicado são medidas tão básicas, como o fim do bloqueio à Gaza (livre trânsito de pessoas e mercadorias) e construção de um porto, que o governo de Israel poderia ter feito isso através de negociações com o governo palestino antes de que a guerra começasse.


A guerra trouxe o Hamas e outros grupos terroristas para o centro do cenário político. Qualquer acordo terá que passar pelo aval desses grupos. A Jihad do Hamas não se constrói somente no campo militar. É muito maior que isso. A guerra significa dar um passo atrás para depois dar dois para frente em seguida. Eles precisam da guerra e contam com a ajuda do lado israelense para atingir seus objetivos.



Artigo publicado em 27 de agosto de 2014


Comentários


Não perca nenhum post 
Receba no seu email os conteúdos do Do Lado Esquerdo do Muro   >>>

Email enviado!

bottom of page